Texto 16 - Berkeley (A natureza como linguagem)


BERKELEY - A NATUREZA COMO LINGUAGEM


** Texto de autoria de Maria Adriana Camargo (professora do Departamento de Filosofia da UFPr), publicado na revista Mente e Cérebro & Filosofia - Edição nº2 - Gráfica Ediouro



Muitas considerações a respeito dos gregos vinham sendo feitas à época em que George Berkeley publicou sua Nova teoria da visão (1709). Locke, no Ensaio sobre o entendimento humano, já havia apresentado o problema que lhe fora proposto por William Molyneux, sobre a possibilidade de um cego de nascença, a quem fosse dada a visão, poder reconhecer o que ele percebia pelo tato naquilo que então viesse a perceber com os olhos. “Suponha um homem nascido cego, que, quando adulto, aprendeu a distinguir, pelo tato, um cubo e uma esfera de mesmo material e tamanho, de modo a poder dizer, ao tocar um e outro, qual é o cubo e qual é a esfera. Suponha, então, que o cubo e a esfera são colocados sobre uma mesa e que o homem cego passe a enxergar. Eu pergunto: pela visão, ele poderia distinguir a esfera do cubo, antes de chegar a tocá-la?



Concordando com o amigo, Locke considera que tal distinção não poderia ser feita apenas com base no acesso à experiência visual, mas mediante o estabelecimento, por meio de experiências posteriores, de uma relação entre os dois tipos de percepção, do tato e da visão. Ele observa: "Ainda que, pela experiência ele saiba como a esfera e o cubo afetam seu tato, ele não teve a experiência de como aquilo que afeta seu tato deve afetar sua visão; em outras palavras, que o ângulo protuberante do cubo, pelo qual este afeta suas mãos de modo desigual, deve aparecer aos seus olhos do modo como um cubo aparece". 


O teste dessas especulações por uma experiência só foi realizado anos depois. Em 1728, o cirurgião inglês William Cheselden, ao remover as cataratas de um menino de 13 anos, nascido cego, tornou possível a comprovação de se, de fato, podemos ou não reconhecer pela visão um objeto que conhecíamos anteriormente apenas pelo tato. Berkeley conheceu essa experiência, relatada no Philosophical Transactions of the Royal Society of London, nº 402, 1728, e a citou em sua Teoria da visão defendida e explicado (§ 71), de 1733. 

Os relatos constataram muito mais do que a impossibilidade de reconhecimento imediato daquilo que tocamos naquilo que vemos. O menino não só não foi capaz desse reconhecimento imediato, como também não conseguiu distinguir um objeto visual de outro. "Ele não reconhecia a forma das coisas, nem diferenciava uma coisa de outra, qualquer que fosse a distinção entre suas formas ou grandezas. Mas depois de lhe terem dito que coisas eram aquelas cuja forma havia anteriormente conhecido pelo tato, ele as observava cuidadosamente para então ser capaz de reconhecê-las. Mas, como ele mesmo dizia, porque travava conhecimento com muitos objetos, esquecia-se de vários, e aprendia e esquecia muitas coisas por dia. Quando, várias semanas após ter sido operado, se via confuso diante de um quadro em perspectiva, perguntava qual sentido o enganava, se a visão ou o tato." 

Além disso, o garoto mostrava não ter qualquer noção de distância. "Quando ele viu pela primeira vez, estava tão impossibilitado de julgar distâncias, que pensou, como ele mesmo disse, que todos os objetos tocavam seus olhos como quando sentia tocarem sua pele." Tampouco era capaz de considerar o espaço, ou a extensão, como partes menores englobadas por partes maiores. "Não conseguia imaginar qualquer linha que fosse além dos limites do que via. Dizia que sabia que o quarto onde estava fazia parte da casa, mas não conseguia conceber que a casa toda pudesse parecer maior." 



EXPERIÊNCIA ORIGINÁRIA 


Diante de tais relatos, quais questões seriam capazes de justificar o interesse demonstrado por filósofos como Locke e Berkeley, a ponto de estes acompanharem o desenvolvimento dessas experiências e as citarem em suas obras? Decerto o envolvimento relacionava-se com a concepção empirista de ambos e de outros pensadores dos séculos XVII e XVIII. Segundo esses filósofos, tudo o que podemos conceber, afirmar ou negar sobre o que quer que seja tem como referente algo inicialmente apreendido pela visão, tato, olfato, audição, paladar, bem como as paixões e ações implicadas nessa apreensão. Ao postularem que o conhecimento provém da experiência, eles tinham interesse em comprovar o caráter fundamental dos elementos componentes da mesma e definir as capacidades dos sujeitos em organizar esses elementos fundamentais, pelo que, ao mesmo tempo, se estaria tanto determinando aquilo que dá validade a esse conhecimento quanto estabelecendo seus limites. 

E o que, afinal, tais empiristas acreditam apreender na experiência do mundo? Um empirista, como Berkeley, afirmaria que, a princípio, aprendemos cores e luzes, resistência, movimento, maciez, aspereza, o calor, o frio, sons, sabores, odores... E que, em seguida, a repetição e a retenção dessas experiências nos permitem estabelecer relações entre esses elementos mínimos, os quais aos poucos vão se articulando numa complexidade de objetos relacionados por regularidades, à primeira vista. inconcebíveis. Configura-se, portanto, um interesse em saber, antes de tudo, que primeira vista seria essa. Se seria possível alcançá-la. E, se o pudésse-mos, o que poderia nos ensinar. 

Para um ernpirista, mais uma vez, a hipótese a ser confirmada é a de que essa primeira experiência comprovaria justamente que a complexidade do mundo é construída com base em elementos bastante simples. Por isso mesmo, estaríamos impedidos de postular a realidade de algo que não pudesse ser reduzido a tais elementos. Fato e interdição que Berkeley, em especial, tem interesse em pôr à prova ao explorar o exemplo de alguém que, de fato, poderia estar consciente de uma primeira experiência: o menino cego operado pelo Dr. Cheselden. 

O relato daquele que pela primeira vez tem determinadas experiências reveladoras de todo um mundo novo, no caso o mundo visual, surge, então, como uma possibilidade privilegiada para verificar a concepção de mundo físico e de conhecimento próprias do empirismo. Para Berkeley, em particular, tal condição especial de experiência apresenta-se como uma oportunidade única para confirmar a redução, por ele proposta, de noções como as de espaço, distância e identidade do objeto a elementos dados na experiência sensível. 

Assim, ao apropriar-se da experiência original desse neovidente e postando-se, portanto, em um ponto de partida pelo qual, sendo possível determinar o que é dado, pode-se distinguir este dado do que lhe é acrescentado pelo trabalho da memória e da imaginação, o filósofo se pergunta: o que efetivamente percebo pelo sentido da visão? É possível ver a distância, ou o espaço que acredito se interpor entre um objeto e outro? Se não posso reconhecer o objeto que tocava por aquele que agora vejo, é possível afirmar que vejo o mesmo objeto que toco? Quando há discordância entre as informações provenientes do tato e da visão, estou sendo enganado por esses sentidos? E, se for assim, em que medida posso confiar em meus sentidos? E, mais, se em última instância todo o conhecimento humano sobre o mundo físico se funda nos sentidos, e se estes nos enganam, em que medida podemos, de fato, conhecer? Questões, portanto, sobre a origem, limites e validade de nosso conhecimento e, especificamente, no âmbito da discussão aqui proposta, do nosso conhecimento do mundo físico. 

Sigamos, então, um pequeno itinerário do tratamento dessas questões, por Berkeley, com base em sua teoria sobre a visão. E comecemos pela interrogação a respeito da "percepção da distância". 

DISTÂNCIA, PASSO A PASSO 

Como poderíamos descrever a experiência daquilo que percebemos pela visão quando dizemos perceber a distância dos objetos que vemos? Para Berkeley, nossa experiência da distância está condicionada a experiências sucessivas pelas quais detectamos relações estáveis entre o número, o tamanho e a vivacidade dos objetos visualizados. Nesse sentido, ele afirma que, quando percebemos "um grande número de objetos intermediários, como casas, campos, rios e outras coisas semelhantes" que experiências anteriores nos mostraram "ocupar um espaço considerável", julgamos que aquilo que está além desses objetos se encontra a uma grande distância. E, mais, quando um objeto que antes nos pareceu grande e em toda sua vivacidade, aparece-nos agora pálido e de menor tamanho, somos levados também a concluir que ele está mais afastado de nós agora do que anteriormente. Todas essas considerações implicam, portanto, uma ou várias experiências anteriores com as quais possamos comparar a experiência atual, pois não poderíamos, apenas da "pequenez ou palidez, inferir nada em relação à distância dos objetos". (NTV, § 3).

Mas, então, ao levar em conta essa descrição de Berkeley, não seríamos obrigados a admitir que a distância, ainda que não possa ser vista em si mesma — vemos apenas a diferença de vivacidade, grandeza e distinção entre objetos —, possui realidade, na medida em que pode ser inferida dessas percepções visuais? Ou, no mínimo, não teríamos que explicar como devemos interpretar a expressão "ocupar espaço considerável"? 

Quanto a isso, porém, Berkeley não poderia ter sido mais claro. "Quando eu olho um objeto, percebo uma certa figura e uma certa cor, com um certo grau de vivacidade e outros fatores, que, segundo o que eu já observei anteriormente, me determinam a pensar que se eu avançar tantos passos, ou tantas milhas, serei afetado por determinadas idéias do tato; de sorte que, estritamente falando, eu não vejo nem a distância em si mesma nem nada que esteja à distância." (NTV, 5 45) 

É assim que a distância de um objeto percebido pela visão não é vista nem inferida, mas se reduz ao número inter-mediário de percepções apreendidas pelo tato — medidas em passos, ou metros — que separam o observador de um determinado objeto visual que ele prevê alcançar também pelo tato. São os movimentos de um corpo, portanto, percepções táteis, que, em última análise, estão em pauta quando alguém considera a distância. Nas palavras do autor: "depois de ter transposto determinada distância que deve ser medida pelo movimento do seu corpo, movimento percebível pelo tato, ele perceberá tais ou tais idéias táteis que foram habitualmente associadas a deter-minadas idéias visuais". (NTV, idem) 

Assim, a distância se resume na sugestão de percepções táteis por percepções visuais. Sugestão que só se configura porque vivemos a experiência da conjunção constante entre essas percepções. Porque eu tive, por exemplo, a experiência da conjunção constante entre o tamanho, a cor, a vivacidade da xícara que ora vejo (além do número de outros objetos visíveis passíveis de se interporem entre mim e ela) e o movimento de alongamento de meu braço necessário para ter a percepção tátil da xícara, posso dizer que ela está próxima, ou seja, ao alcance da mão

Se, como o bebê que estica os braços do berço, para alcançar a luz que pende do teto do quarto, eu não tivesse vivido as experiências constantes que relacionam determinada aparência visual da lâmpada com o número de percepções táteis necessárias para que possa senti-la em minhas mãos, jamais poderia dimensionar a distância entre mim e a lâmpada. 

Não é de estranhar, portanto, que o cego de nascença, que não teve a experiência caudalosa dessas relações e não foi afetado por sua constância, nada saiba a respeito da distância quando olha pela primeira vez. Como disse o menino recém-operado, aquilo que ele vê, pela primeira vez, parece que "toca seus olhos". Nada mais plausível, segundo Berkeley, uma vez que a distância não é dada pela visão: o que é dado pela visão é a sugestão, por um acúmulo de experiências, de um determinado número de percepções táteis. Sendo assim, a dis-tância surge para nós apenas da relação entre percepções táteis e visuais, ela não existe fora dessa relação. 

As considerações sobre a distância permitem a Berkeley a elaboração de um outro argumento. Ao revelarem que existe uma relação de significância entre percepções visuais e táteis, essas reflexões concorrem na defesa da concepção berkeleiana da Natureza (o universo da experiência dos objetos físicos), conside-rada como uma linguagem, na medida em que esta é um composto de signos que se remetem, por meio de regras fixas, ainda que arbitrárias, uns aos outros. E será, justamente, com base nessa noção peculiar de Natureza, que se esvaziará uma outra ilusão comum a muitos pensa-dores — bem como ao menino cuja visão foi restaurada, quando ele adquire uma certa familiaridade com as relações entre o tato e a visão. Trata-se da ilusão de que nossos sentidos nos enganam. 

A IDENTIDADE DO OBJETO 

Ora, não foram poucas as advertências, repetidas ao longo de toda a história da filosofia, contra os enganos provenientes dos sentidos. 

Grandes ou pequenos, com temperatura, cor e cheiro variáveis, os objetos nos aparecem, pelos sentidos, segundo esses argumentos, em constante mudança. Mais ainda, em muitos casos, sabemos que as mudanças ocorridas em sua aparência são determinadas exclusivamente por alterações que devem ser reputadas a nós, que os percebemos. Alguns exemplos: aquele prato delicioso nos parece insosso se estamos resfriados; a água do banho nos parece muito quente se acabamos de nos expor a um sol escaldante, e apenas - morna, se o corpo se ressente dos rigores do inverno; e basta apertar os olhos ou deles afastar ou aproximar os objetos para que os contornos destes tornem-se distorcidos e novas características sejam notadas ou simplesmente desapareçam. 

O perigo de tais argumentos para um empirista é evidente. Afinal, se eles atingem aqueles que apoiam o conhecimento do mundo nas percepções sensíveis, o ceticismo parece conseqüência inapelável. Em uma filosofia de feições empiristas, objeções como essa podem colocar em xeque o próprio fundamento do conhecimento. 


Deixemos que Berkeley se defenda. Para ele, se os argumentos céticos ganham força, é justamente porque os filósofos já se distanciaram da experiência ao privilegiarem um conceito de objeto que implica a permanência de algo uno e igual a si mesmo, em detrimento da diversidade e mutabilidade de nossas percepções sensíveis. 

Portanto, só há engano dos sentidos se entendemos que nossas percepções são características de um objeto que, enquanto tal, deve ser por elas determinado. Assim, a visão parece nos enganar quando uma torre, que de longe nos parecia redonda, se mostra quadrada ao nos aproximarmos dela. Mas, stricto sensu, a torre que vemos ao longe é a mesma que vemos quando estamos mais próximos ou, ainda, a mesma que tocamos? Acreditamos que sim, pela extrema regularidade em que essas percepções distintas se apresentam para nós, ou seja, pela forte relação de significância estabelecida entre elas — mas, segundo Berkeley, por nada mais do que isso. Ele afirma que "não vemos o mesmo objeto que tocamos; nem o objeto percebido pelo microscópio é o mesmo que era percebido a olho nu. Mas se pensarmos que cada variação for suficiente para constituir um novo tipo ou indivíduo, o número interminável ou a confusão de nomes poderia tomar a linguagem impraticável. Desta forma, para evitar estas e outras inconveniências que se tornam evidentes por um mínimo de reflexão, o homem combina várias idéias apreendidas por diversos sentidos, ou pelo mesmo sentido em tempos diferentes ou em circunstâncias diferentes, mas que se observou terem alguma conexão na Natureza com respeito à coexistência ou à sucessão; e a todas elas ele se refere com um nome, e considera como uma coisa". (Diálogos, 245)

Consideradas em si mesmas e nas relações pelas quais elas se associam e constituem nossa experiência, as percepções não são a causa de qualquer tipo de engano. Isso porque, de sua variedade, não podemos chegar a afirmar a existência de um objeto que resista a suas mudanças, ou que exista como seu referente. Tampouco, portanto, devemos duvidar da confiabilidade dos sentidos, ou de que eles estejam em contradição uns com os outros ou com qualquer coisa que esteja além deles, uma vez que esse engano só se configura segundo o falso princípio que pressupõe a existência de uma natureza real única, imutável e não perceptível. Falso princípio que a filosofia de Berkeley quer desmascarar. Esvaziada a noção de objeto, enquanto unidade permanente e imutável, restam como componentes do mundo físico percepções transformadas umas em signos das outras. Resta a concepção de Natureza como linguagem. 

Tal linguagem, para o filósofo, é emi-nentemente visual e, apesar do caráter arbitrário inerente a todas elas, tem tam-bém, como qualquer outra, uma constância que a valida enquanto conjunto de normas estáveis. Usando as imagens do próprio Berkeley, o caráter arbitrário dessa linguagem é o mesmo existente entre o rubor ou a palidez do semblante de um homem e a vergonha ou o medo, que consideramos signos uns dos outros; assim como, mesmo não podendo encontrar um vínculo necessário entre a pouca ou grande vivacidade, a distinção, ou a confusão de nossas percepções, de um lado, e uma maior ou menor distância, de outro, estabelecemos, entre elas, relações de referência. Relações que são em certa medida arbitrárias, mas que se tomam possíveis porque as conexões entre as percepções se dão de forma constante, e sua decifração por nós é exercitada desde que viemos ao mundo, abrimos os olhos e enxergamos pela primeira vez. 

Seu caráter eminentemente visual se configura porque as idéias visuais são mais aptas que as outras para representar as percepções táteis. Isso porque, ao contrário dos sons que, percebidos em um mesmo instante, fundem-se em um só, as imagens nos dão ao mesmo tempo um grande número de objetos visíveis distintos e separados uns dos outros. No entanto, os mesmos critérios que possibilitam a relação de significação entre as idéias visuais e táteis, são responsáveis por ocultá-la. Pois por sua constância, por não termos lembrança de seu aprendizado e por terem maior aptidão a representarem as idéias do tato, confundimos umas com as outras e acreditamos fazerem parte de um mesmo objeto. "Não podemos abrir nossos olhos sem que a noção de distância, de corpos e de figuras tangíveis seja sugerida pelas idéias visuais. A transição das idéias vi-suais às idéias táteis é tão rápida e súbita que dificilmente podemos deixar de pensar que elas são igualmente objeto imediato da visão." (NTV, § 145) 

É assim que, conforme nos esquecemos do aprendizado dessa linguagem, somos levados a fundar suas relações de significação em realidades "extralinguísticas". E é assim, portanto, que, ao nos apropriarmos da experiência daquele que está dando os primeiros passos nas letras, somos capazes de nos livrar de nossos inúmeros vícios de linguagem.


PARA CONHECER MAIS 

• Berkeley et le voile des mots. Geneviève Brykman. Vrin. 1993.



O TORY HANOVERIANO

Precoce e totalmente dedicado ao trabalho intelectual, George Berkeley tornou-se conhecido pela publicação de uma série de obras de fôlego, em rápida sucessão. A primeira surgiu em 1709, quando ele tinha apenas 24 anos de idade: sua Nova teoria da visão. No ano seguinte, apareceu o Tratado sobre os princípios do conhecimento humano e, em 1713, os Três diálogos entre Hilas e Filonous, nos quais retomou e desenvolveu os argumentos do Tratado. Antes, porém, em 1712, o pensador irlandês, clérigo e mais tarde bispo anglicano, havia publicado Obediência passiva, série de três sermões nos quais pregava a sujeição, sem questionamento, ao poder real. 

Era um momento oportuno para esse tipo de proclamação de fidelidade. Chegava ao fim o governo da rainha Ana, filha de Jaime II, que morreria em 1714, sem deixar descendentes vivos. Para evitar que Jaime Stuart, irmão dela, reivindicasse o trono, o Parlamento havia excluído, em 1701, os católicos da sucessão inglesa. Assim, a coroa foi entregue, em 1715, a um parente distante: George, governante de Hanover, pequeno Estado alemão. 

A presença de um alemão, no trono inglês, estimulou o filho do monarca deposto a retomar o poder. Em 1715, ele desembarcou na Escócia, mas não conseguiu apoio e logo deixou o país. Durante a breve incursão, Berkeley provou sua lealdade à recém instalada dinastia de Hanover, escrevendo um opúsculo no qual aconselhava os tories (conservadores) a não embarcar em aventuras. Por tudo isso, o filósofo irlandês chegou a ser apresentado como um "tory hanoveriano". 

CRONOLOGIA 

1685 NASCIMENTO DE GEORGE BERKELEY. 

1700 INGRESSA NO TRINITY COLLEGE, DE DUBLIN, GRADUANDO-SE QUATRO ANOS DEPOIS. 

1709 TORNA-SE DIÁCONO DA IGREJA ANGLICANA. PUBLICA NOVA TEORIA DA VISÃO

1710 É ORDENADO SACERDOTE. LANÇAMENTO DE SEU TRATADO SOBRE OS PRINCÍPIOS DO CONHECIMENTO HUMANO

1712 PUBLICAÇÃO DE OBEDIÊNCIA PASSIVA, COM SERMÕES NOS QUAIS DEFENDE A SUBMISSÃO AO PODER REAL. 

1713 PUBLICAÇÃO DE TRÊS DIÁLOGOS ENTRE HILAS E FILONOUS

1724 TORNA-SE DEÃO NA CIDADE DE DERRY. 

1728 DEPOIS DE CASAR-SE, VAI COM A MULHER PARA A AMÉRICA E FIXA-SE EM NEWPORT (RHODE ISLAND), SÓ RETORNANDO A LONDRES EM 1731. 

1732 PUBLICAÇÃO DE ALCHIPHRON, OBRA ESCRITA EM NEWPORT. 

1731 É CONSAGRADO BISPO DE CLOYNE, EM DUBLIN, 

1741 PUBLICAÇÃO DE SIRIS

1752 DOENTE E ENFRAQUECIDO, RENUNCIA AO EPISCOPADO E FIXA-SE EM OXFORD. 

1753 MORTE DE BERKELEY, EM OXFORD. 


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